O sonho ainda não acabou - A vida ao lado de Deus - Parte 6
O baque
Minha família ia me visitar todos os dias, e eu aproveitava para desabafar tudo que estava sentindo e pensando. E nesse dia seguinte a visita do obreiro, minha irmã veio me ver, junto com minha mãe. E ambas me deram a triste notícia de que o obreiro havia anunciado na reunião que por conta da minha internação e problemas de saúde, ele iria me tirar da coordenação do projeto que eu tomava conta. Essa notícia foi como um tiro para mim. Eu amava e ainda amo cuidar desse projeto. E o que mais me doeu foi que ele havia me visitado no dia anterior e não comentou nada sobre o assunto comigo. E também, a forma que algumas pessoas agiram ao saber que eu havia saído do projeto. Pessoas que na época sempre fizeram questão de me diminuir de alguma forma. Eu ficava muito triste com essas perseguições. Eu entendi que talvez ele tivesse pensando em me poupar, mas naquela ocasião, servir a Deus e cuidar do projeto eram minhas maiores alegrias.
Lembro que escrevi uma carta enorme para o obreiro e pedi para minha irmã entregar para ele. Naquela mesma noite que recebi a notícia, pedi licença para a senhora que estava dividindo o quarto de hospital comigo e ali eu me derramei. Fui muito sincera com Deus. Fiquei mais uns dias internada, me recuperei, e saí do hospital. Tive tempo o suficiente durante a internação para pensar na vida e refletir. Após sair do hospital fui resolver todos os problemas e recuperar tudo que tinha perdido, reconstruir tudo que havia desmoronado. E não foi fácil, mas eu sabia que iria conseguir.Na primeira reunião que participei após minha volta fui levantada a coordenadora novamente. Fiquei muito feliz e tinha certeza que isso só aconteceu por conta da minha oração sincera diante de Deus, da oração que minha irmã também fez e também porque sabia que o obreiro não havia feito a troca por maldade, foi para me poupar. Mas ele entendeu que não queria ser poupada, que cuidar do projeto era meu maior prazer.
Tudo tem seu tempo
Se eu disser que após sair do hospital tudo foi flores e voltou ao seu devido lugar é mentira. Eu ainda tive aproximadamente mais um ano e meio de luta pela frente. 2017 foi um ano terrível! Lembro que na virada do ano, passei na presença de Deus, na vigília que tem todos os anos na igreja, a vigília da virada. Chorei igual uma criança, era como se um peso estivesse saindo. Uma esperança por um novo ano melhor. Era como se todo meu sofrimento tivesse ido embora junto com o ano de 2017. Sabe, não importa as circunstâncias de fora, o que vemos no nosso mundo físico; aprendi que não tem sentido lutar contra o problema e sim fazer diferente. Não era o ano que tinha uma carga ruim, eu quem precisava mudar. Não estou me culpando, afinal, jamais escolheria de maneira consciente passar por tudo aquilo. Jamais! Eu realmente não sabia sair de toda aquela situação, mas eu tinha fé que um dia sairia, mesmo sem saber como.
Hoje eu me lembro de tudo, e me sinto feliz por ter acabado e tenho vontade de chorar. Era um inferno! Sabe o que é não poder ter as coisas simples da vida? Lembro que as vezes eu estava na igreja, com fome, e pensava, o que será que vou achar para comer quando chegar em casa? Bom, eu era muito firme com Deus e na obra da igreja, mas posso dizer que o fato de estar na igreja, não muda a vida de ninguém. Não é o ambiente, é você quem faz a diferença. Estar na igreja me ajudava muito a ouvir a palavra de fé e ter força, a fé anima! Mas não adianta apenas ouvir. Eu ouvia, via na vida dos outros, mas e na minha vida? Por mais que Deus me ajudava em tudo, Ele sem dúvidas poderia transformar minha vida, e não apenas me dar uma forcinha.
2018 foi um ano árduo! Não foi muito diferente de 2017, minha saúde estava um caos, e já não era mais pelo mesmo problema do ano anterior. Eu não sabia o que ocasionava, mas eu acreditava que era por conta de uma prótese que haviam colocado em mim. Achava que os médicos não haviam tirado e ela havia apodrecido dentro de mim, e ocasionava o tal problema de saúde, no qual não vou mencionar, mas durante o ano de 2018 eu perdi o direito de andar livremente na rua. Por conta disso eu saia com medo, porque sabia que poderia passar mal a qualquer momento, e sabia que se acontecesse seria humilhante, terrível e com isso fui deixando até mesmo de ir à igreja.
Na época eu havia me matriculado num curso de costura, e tive que abandonar o curso na metade pois já não podia mais ir, passei mal no curso várias vezes, e era humilhante. Quando digo humilhante não me refiro ao fato de estar doente e passar mal, mas ao que de fato acontecia. Realmente não vou mencionar. Cheguei a emagrecer muito! E ainda tinha a guerra financeira. Era uma verdadeira luta conseguir chegar até o curso, pelo fato de não ter dinheiro suficiente para a passagem, e por conta da saúde. Por todos esses motivos abandonei, e minha mãe que fazia o curso comigo, prosseguiu até o final sozinha.
Aos olhos humanos não tinha esperança, eu me perguntava como iria me curar daquilo. Os médicos não descobriam o que eu tinha, eu não parava de emagrecer, e o problema parecia não ter fim. A vida financeira continuava amarrada, até doações de mantimentos cheguei a receber dos vizinhos. Agradeço pela ajuda, mas tinha vergonha de andar na rua. Acabei tendo que pedir para sair da coordenação do projeto da igreja, porque não podia sair na rua livremente e eu não tinha coragem de dizer o real problema de saúde que estava enfrentando. Com isso fui taxada como a afastada. Isso me doía muito porque eu não estava afastada de Deus, nunca estive, nunca quis me afastar de nada. Eu fui obrigada pelas situações. E me fazia muito mal ver as pessoas da igreja virem até minha casa me chamar para ir à igreja como se eu não quisesse ir, como se eu tivesse me afastado da presença de Deus. E uma das coisas que me deixava muito intrigada era que muitas vezes, eram as mesmas pessoas que viviam tentando me diminuir que viam me evangelizar. Isso fez de certa maneira eu criar uma espécie de maus olhos. Como se estivessem felizes por terem me tirado da jogada. Muitas vezes pensei que estava sendo vítima de inveja. E foi uma época realmente dolorida... Às vezes me perguntava se eu não estava sendo injusta com aquelas pessoas, se de fato não estavam tentando me ajudar por acharem que eu estava longe de Deus. Com isso eu enfrentava um turbilhão de pensamentos, julgamentos e não podia me defender, ou me livrar deles, porque fiquei presa, por não querer abrir minha vida e a situação real da minha saúde a ninguém. Não era apenas um orgulho, mas eu sabia que ninguém se importaria além dos meus familiares, pai, mãe, irmã e melhor amiga. Então pra que me expor? Para que dizer para as pessoas, embora sendo pessoas até então de Deus, o problema que me causava tantos sofrimento e humilhação? Sim, era exatamente assim que eu pensava, e acredite, eu não formei essa opinião de me fechar e não confiar nas pessoas por puro orgulho, ou algo do tipo, mas sim, porque como mencionei, fui internada várias vezes e nunca recebi uma mensagem perguntando se eu estava melhor, ou viva. E quando eu recebia alta e estava de volta, a grande maioria fingia não me ver, literalmente! Eles realmente me viam de longe e quando chegavam mais perto fingiam não me ver! (Risos) E quando não tinham como fugir, "fazer a egípcia" mesmo assim, não tinham a coragem de perguntar sobre como eu estava.
"Nossa, Lilian, mas agora ficou contraditório. E a visita que você recebeu de dois obreiros e um jovem da igreja?" Respondendo, a essas alturas toda a coordenação já havia mudado, e já não tinha mais eles por perto. As coisas dentro da igreja mudam muito e infelizmente eu não tinha mais um contato com eles como outrora.
Bom, por vários fatos, eu criei o paradigma e a verdade absoluta de que ninguém se importava
verdadeiramente comigo. Quando eu digo ninguém, não estou realmente generalizando, até porque sei muito bem reconhecer as pessoas que me estenderam a mão quando eu ou alguém da minha família precisou. Sou grata e recíproca. Mas depois de muita frustração em perceber que eu tinha uma consideração muito maior por algumas pessoas do que elas tinham comigo, eu me convenci de que, as pessoas muitas vezes até querem te ajudar e se importam com algumas coisas, mas a grande maioria só quer saber mesmo e não estão nem aí para nossas dores. E que nem todos que te estenderam as mãos querem realmente o seu bem e, infelizmente posso dizer que o ditado: "As pessoas querem te ver bem, mas nunca melhor do que elas", faz total sentido pra mim. Vou dizer o porquê formei essas opiniões posteriormente, mas por ora, só quero dizer que naquela ocasião, perceber que só queriam saber, fez com que eu preferisse ser escrava do julgamento, ao invés de me explicar para pessoas que só iam ficar sabendo das minhas lutas e seguir suas vidas normalmente e poderiam até mesmo espalhar para outros. Eu não via sentido nenhum.
O Espírito de Deus em mim
Diante a tudo isso, as pessoas me tratavam como se eu não tivesse uma vida com Deus. E aí o questionamento: "Como uma pessoa de Deus pode ter essa vida?" Eu as vezes me questionava, será que eu perdi o Espírito Santo? Mas eu sei que jamais, jamais, jamais, teria suportado e passado por tudo de cabeça erguida sem Deus. Tinha momentos que eu sentava e chorava sim. Mas logo me levantava e dizia: Eu vou sair dessa! Não é hipocrisia, eu realmente sabia que iria achar a saída, por mais que não estivesse vendo nenhuma. Lembro que em algumas orações eu dizia para Deus: "Ou o Senhor me tira dessa situação ou me mata!". Eu tinha motivos o suficiente para ser amargurada, ou odiar a vida. Mas uma das coisas que posso dizer é que mesmo no inferno, eu conseguia encontrar paz. Eu tinha sim, meus momentos de trevas, todo mundo tem. Mas algo em mim não aceitava simplesmente aceitar e se conformar. Eu precisava achar a saída. E sabe, em um certo momento comecei a ver a luz no final do túnel.
"Peçam, e será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta.
Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e àquele que bate, a porta será aberta." - Mateus 7:7-8.
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